Fotografar na rua pode ser incrível, Mas tem alguns desafios que podem ser superados com as dicas certas. Ganhador de vários prêmios, Melvin Quaresma é fotógrafo especialista nesse estilo e deu o caminho das pedras para quem gosta da fotografia de rua.
Desde o começo da minha fotografia, sou apaixonado por assistir às pessoas. Na verdade, bem antes de operar uma câmera pela primeira vez, me interesso por assistir à vida acontecer.
Bem criança ainda, em Florianópolis, onde fui criado, passava a tarde sentado em um banco qualquer, observando atento todo o povo que ia e voltava pelo calçadão da Felipe Schmidt, no centro da cidade. Ali, talvez, foi o início da minha fotografia — principalmente da vertente que costumo chamar de fotografia de cotidiano.
E o que é essa tal fotografia de cotidiano?
Em meu trabalho, é como uma coletânea de observações diárias sobre o ser e as interações humanas. A relação do homem e seu ofício, a conversa entre os que sentam ao meu lado, no ônibus de volta pra casa, a solidão de alguém em meio à multidão de um centro qualquer. Essas pequenas frações do dia a dia compõem esse mosaico, essa coleção de luz congelada.
O que torna uma fotografia interessante pra mim é meu inexplicável apreço pelas pequenas interações, pelos pormenores. A possibilidade de eternizar os segundos de drama, alegria, tristeza, solidão e toda a complexidade humana me move a fotografar todo dia.
Se tivesse de dar um dica valiosa para alguém começar a fotografar na rua é que observe muito e perceba o que há de interessante ao redor. Quando possível for, esteja com a câmera sempre por perto para registrar esses momentos que observa.
Achou algo que interessou? Fotografe.
CANON 5D MARK II + 20mm f/2.8 ISO 640 f/3.5 1/80
OS MAIORES DESAFIOS
A timidez sempre foi e ainda é o maior desafio que encontro em fotografar na rua.
Registrar o ser humano, da maneira que me encanta, requer contato, conversa, interação entre fotógrafo e fotografado. E aí surge o grande aprendizado que a fotografia trouxe pra mim: só pude registrar as pessoas de maneira verdadeira quando me tornei parte daquilo, do contexto.
É preciso se envolver com quem e onde você está fotografando.
Foi só quando conversei com os feirantes no Ver-o-Peso, em Belém, ou quando larguei a câmera por algum tempo e pude conversar com os outros passageiros num ônibus que consegui deixar a vergonha de lado. E desde então, a fotografia é consequência e não mais meta.
Por vezes — muitas vezes, aliás —, o retorno para casa é cheio de histórias e vazio de fotografias. E não há problema nisso, porque a meta é viver e assistir a vida acontecer, sem deixar a rotina atropelar toda a beleza das miudezas cotidianas.
CANON 5D MARK II + 20mm f/2.8 ISO 1250 f/2.8 1/320
A ABORDAGEM
Um dos obstáculos em fotografar retratos na rua é que as pessoas não esperam ser fotografadas em um dia comum.
Em um evento, procissão religiosa ou qualquer situação pontual, fotografar as pessoas se torna um pouco mais fácil pois é comum que se fotografe nesses tipos de situação. Busco sempre explicar para o fotografado minhas intenções e dizer de maneira clara, objetiva e muito honesta o que é a minha fotografia. Se possível, também mostro no celular algumas fotos feitas na rua.
Em certos casos, não faço esse contato mais direto e verbal. Tudo varia com o contexto e tipo de foto que busco fazer. Na foto abaixo, por exemplo, vi de longe o senhor em uma pose serena, olhando para o chão. Fiz a foto sem qualquer apresentação ou troca de palavras.
CANON 5D MARK II + 85mm f/1.8 ISO 400 f/2.8 1/400
Com o vendedor de camarões, na foto seguinte, o diálogo aconteceu. “Ei, eu tô fotografando o pessoal que trabalha aqui no Ver-o-Peso pra uma série de fotografias sobre Belém… Nasci aqui e…” Enfim, conversa direta para explicar minha intenção ali.
CANON 5D MARK II + 20mm f/2.8 ISO 2000 f/2.8 1/80
EQUIPAMENTO
Atualmente, utilizo uma Canon EOS 6D com lente Canon EF 50mm f/1.4. Para situações cotidianas gerais, gosto do ângulo de visão proporcionado pela 50mm. Para os retratos, a lente também satisfaz minhas expectativas. Escolhi a 6D por ser uma câmera resistente ao mesmo tempo em que é compacta se comparada com outras DSLRs profissionais.
Na rua, grandes câmeras e lentes não se adaptam bem ao meu estilo de fotografar — já que gosto de estar fisicamente bem perto dos assuntos fotografados.
CANON 5D MARK II + 50mm f/1.4 ISO 100 f/2.8 1/200